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segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Celular nas aulas - fotolog fora do ar


Durante o tempo como professor no colégio de aplicação da UFMG (CP), fiz um registro regular das minhas aulas e de outros momentos da escola, com a participação dos alunos, utilizando principalmente câmeras de celular. Esse registro virou um fotolog, que foi prontamente retirado do ar a pedido da direção, em função da inexistência de autorização dos pais para exibir imagens das crianças. Ficou a promessa de que a escola faria formalmente esse pedido para que o material fosse disponibilizado no site do CP. Penso em publicar aqui no blog algumas fotos que, preservando a identidade das crianças, mostram como é possível aliar as tecnologia às aulas de Educação Física.

Abaixo segue a descrição do extinto álbum:

Durante os últimos meses fui professor substituto de Educação Física da Escola Fundamental do Centro Pedagógico da UFMG – CP/UFMG. Durante esse tempo, fotografei aulas com a câmera do meu celular. Também estimulei os alunos para que eles fizessem uso dos seus aparelhos eletrônicos em sintonia com as aulas, indo contra a posição de muitos professores de que celulares, câmeras, tocadores de música e afins devem ser negados, evitados, excluídos das salas de aula e da escola.

Minha desilusão com a escola (da qual falarei em outro momento, talvez em outro espaço) me fez ser drástico, repensar a vida, pedir demissão e buscar novos caminhos. Esse álbum é o registro de que essa decepção com o CP não condiz com a paixão que tenho pela Educação e, em especial, pela Educação Física. Nesse álbum, com essas pequenas capturas das aulas – alunos em movimento, sorrisos, fusão de linguagens e conhecimentos construídos e compartilhados – é que deixo meu protesto, meu pesar e minha esperança de que um dia essa escola seja um lugar de formação humana não melhor ou pior, mas diferente.

As fotos são propositalmente embaralhadas, misturam turmas, ciclos, diferentes aulas, como se fossemos surpreendidos pelas cenas ao andar pela escola.

De volta às ilhas desconhecidas: relato de um ex-professor substituto

Venho de meses difíceis: decisões, grandes mudanças, apostas, desilusões. Peso minha vida ao olhar para esse blog e ver o quanto ele esteve abandonado...


No início do ano fiz a opção de deixar o trabalho com educação à distância na UFSC e retornar ao cotidiano da vida de professor em aulas de Educação Física para o ensino fundamental. Me mudei de Florianópolis, voltei para Minas, fui trabalhar como professor substituto da Escola de Ensino Fundamental do Centro Pedagógico - CP, um dos colégios de aplicação da UFMG. Vivi uma grande desilusão com o caminho que escolhi. A escola se mostrou um ambiente de trabalho terrível, hierarquizado, cheio de contradições, disputas, descasos. Ela pouco condiz com uma instituição que se diz ser de formação humana.


Vem de mais de mais de uma década a dificuldade para repor o quadro de professores efetivos do ensino público. Isso gera uma situação em que temos substitutos substituindo substitutos ano após ano. A precariedade, que vem de cima refletida no trabalho temporário (dois anos de contrato mais dois anos de geladeira sem poder assumir outra vaga de substituto...) e na baixa remuneração (os substitutos recebem bem menos que 10 reais por hora de trabalho), ganha contornos sombrios nas relações que são tecidas entre professores efetivos e substitutos. Como exemplo, os substitutos chegam a dar três, quatro vezes mais aulas que os professores efetivos, enquanto uma parte considerável destes, sob o discurso de que é preciso assumir cargos administrativos, pesquisa e extensão, não se envolve de forma convincente com as atividades da escola. É muito cômodo dar raras aulas, ir numas poucas reuniões, sobrecarregar os substitutos, convencer voluntários a cobrir os buracos de forma mais precária ainda que os substitutos e no final justificar o salário se envolvendo só com o que é interesse próprio: atividades que passam longe do CP e que em nada contribuem para melhorar a situação precária em que a escola se encontra.


Arrisco dizer que o CP, hoje, é dependente dos professores substitutos. Dependente num sentido patológico, se assemelha a uma dependência química. Se hoje o governo diz que vai repor o quadro de professores, a escola trava nesses moldes em que ela está! Os substitutos, burrinhos de carga, entrariam em extinção. Os efetivos teriam que voltar para a sala de aula como uma carga horária que a maioria não tem há uma década! Uma crise de abstinência estaria instalada no CP.


É preciso discutir como as políticas governamentais, nesse caso específico, as educacionais, são apropriadas e ressignificadas pelo grupo que toma as decisões dentro de cada instituição, setor, etc., refletindo em toda a construção e organização do trabalho e das relações. Como as decisões que partem de cima, numa esfera macro, interferem na vida cotidiana de cada um de nós.


Comprei brigas desde que cheguei. Me esgotei física e mentalmente acreditando que a escola poderia ser um lugar melhor. Me matei de dar aulas, questionei posturas de professores e direção, fiz alianças com colegas que compartilham a crença de mudança. Transitei sempre entre o atropelo e o descaso dos acomodados reacionários de plantão. E ainda existia todo o conflito com o Projeto Segundo Tempo, história que por si só merece um post em outro momento.


Cansei. Emagreci, parei de dormir, perdi o bom humor, o brilho. O entusiasmo que sempre tive ao dar aulas foi sumindo. Quando dei por mim a dor já era profunda, era na alma.


Pesei toda minha vida. Numa decisão muito dolorosa, pedi demissão. Estou escrevendo um texto (denúncia) para circular no CP e na UFMG sobre essa realidade esfacelada e dolorosa, realidade que faz as pessoas chorarem pelos corredores, oprimidas em silêncio.


Não é apenas uma desistência. É também uma aposta de que eu posso contribuir muito mais em outros lugares. É uma decisão de esperança.


Meu foco voltou a ser o término da dissertação sobre o SL. Não estava conseguindo conciliar o esgotamento da escola (toda essa tensão aliada ao excesso de carga horária) com a dedicação necessária para a finalização do mestrado. Por mais que eu tenha em mim essa dificuldade evidente de lidar com o tempo, eu sou muito exigente com o que faço. Vou me dedicar ao que considero ser mais importante. Está reinaugurado o blog: estou de volta às ilhas desconhecidas...