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quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Imigrantes da subjetividade?

Seria a ilha desconhecida um destino utópico dos novos nômades contemporâneos descritos por Pierre Lévy (1998, p. 14) ao afirmar que “somos imigrantes da subjetividade”? Lévy é entusiasta da idéia de que atual curso dos acontecimentos no domínio tecnológico converge para a constituição de um novo meio de comunicação, de pensamento e de trabalho para as sociedades humanas. Para o autor, o “espaço do novo nomadismo não é o território geográfico, nem o das instituições ou o dos Estados, mas um espaço invisível de conhecimentos, saberes, potências de pensamento em que brotam e se transformam qualidades do ser, maneiras de constituir a sociedade”.

Confesso que a idéia de que estamos nos tornando imigrantes da subjetividade me atrai. Imigrantes da subjetividade a transitar pelas ilhas do Second life... Penso que a expressão pode fazer sentido em um contexto em que interagimos e nos relacionamos a partir da internet, do telefone celular... Mas faço ressalvas. Dizer que o território do novo nomadismo não é geográfico contradiz as impressões que tenho e os apontamentos de outras pesquisas recentes que tratam da cibercultura. Prefiro partir do princípio de que existe uma tensão entre local e global, uma relação dialética onde o primeiro não é suprimido pelo segundo. É em Milton Santos, no livro “A natureza do espaço: espaço e tempo: razão e emoção”, que encontro elementos para contrapor o otimista “espaço invisível” de Lévy. O geógrafo brasileiro considera o espaço como “um conjunto indissociável de sistemas de objetos e de sistemas de ações”. Buscando uma interpretação da atualidade, e preocupado com uma “ontologia do espaço”, Milton se atém às discussões sobre o sistema técnico atual, as categorias tempo-espaço, a transposição do meio natural ao meio técnico-científico-informacional, a geografia das redes. Ao final do seu livro, ele apresenta um capítulo intitulado “O lugar e o cotidiano”, um belo texto que toca na dimensão espacial do cotidiano e fala de “um dinamismo que se está recriando a cada momento, uma relação permanentemente instável, e onde globalização, localização e fragmentação são termos de uma dialética que se refaz com freqüência” (SANTOS, 1999, p. 252).

IDENTIDADE NA TENSÃO ENTRE LOCAL E GLOBAL

Após meu cadastro no SL, quando enfim, após muito estranhamento com a interface, comandos e recursos do programa, descobri a opção de “busca”, tratei de procurar e me teletransportar para uma ilha “brasileira”, que, por sua vez, estava cheia de avatares "brasileiros". Depois fiquei a questionar o porquê de buscar a referência da identidade nacional quando se está em um mundo sem fronteiras onde os espaços são de livre circulação e o teletransporte é instantâneo. Temos no SL a possibilidade de realizar viagens imóveis, navegações transversais e heterogêneas pelas “infovias”, exercer o novo nomadismo de Pierre Lévy nos tornando imigrantes da subjetividade. Ainda assim nos remetemos às identidades nacionais? Será a busca por um ambiente que parecesse familiar? A busca por pessoas que compartilham a mesma língua mãe? Por que reforçar a identidade nacional em um ambiente imaginado?

LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. São Paulo: Loyola, 1998.

SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo: razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1999.

Um comentário:

Bruna disse...

Ola Rogerio!
Tudo bem?
Gostaria de entender um pouco mais sobre "imigrantes da subjetividade". Você poderia explicar, por gentileza?!