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quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Basta um teclado e um mouse para realizar os sonhos mais íntimos do seu coração?

“Nascer” para o Second Life é uma experiência que me despertou curiosidade, surpresa e espanto. Um mundo virtual que se diz capaz de propiciar uma “experiência ricamente compensadora”, de trazer como gratificação dinheiro real. O SL promete promover a criatividade em sua plenitude, “materializada” em objetos, serviços e construções colocadas à venda no metaverso. Ao residente do SL, é apresentada a perspectiva de um novo mundo, divertido e livre, construído a partir da imaginação, um mundo no qual podemos ser “donos” de terras, objetos e, sobretudo, livres em nossas ações. Dentre tantas promessas, não consigo encarar com tranqüilidade a afirmação presente no site do Second Life Brasil de que “basta um teclado e um mouse para realizar os sonhos mais íntimos do seu coração”.

Adentrar por esse mundo novo me fez pensar o estar do ser humano no mundo, a sua relação com o lazer, o trabalho, a vida em sociedade, o consumo, a busca por felicidade. Seria esse “universo paralelo” tão paralelo e distante assim do resto da vida? Tenho visto que a "segunda vida" carrega dilemas, contradições e conflitos semelhantes aos da “primeira vida”. Para além do teletransporte e da capacidade de voar, o mundo do SL obedece a normas, regras, padrões muito semelhantes aos do mundo dito real. Se no SL, a gravidade e o deslocamento no espaço funcionam de forma diferenciada das leis do “mundo real”, o mesmo não podemos dizer do arranjo entre os grupos, as relações de pertencimento, as interações e os conflitos entre os sujeitos, as normas de conduta (em várias ilhas, quando fazemos a primeira visita com o avatar, recebemos um “livrinho de regras” dizendo como devemos proceder naquele espaço). Às vezes tenho a impressão que os avatares seguem um padrão “Barbie e Ken”, com suas faces bonitas, narizes afinados, pele clara, penteados e roupas da moda, músculos definidos, cinturas finas, peitos que parecem modelados com silicone. Tenho a sensação de que todos podem ser o quiser, mas não conseguem querer o que quiser... O modelo de corpo que prevalece no SL é o mesmo valorizado e almejado na sociedade contemporânea.

Partindo do pressuposto de que o SL se estabelece como uma dimensão da vida social cotidiana, é de se esperar que ele padeça das restrições e limitações do mundo em que vivemos, que enfrente as mesmas contradições. Mas após meses como residente, acho que o SL também demonstra o quanto nossa imaginação, a partir das tecnologias, alcança novas fronteiras em diálogo com a vida cotidiana que acostumamos a chamar de “real”, e consequentemente, de “verdadeira”.

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